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Se Minha Mãe Estivesse Viva Hoje…



Uma Reflexão Sobre Presença, Ausência e os Mistérios da Alma

Tenho poucas fotos com minha mãe. Talvez porque, lá no fundo, eu jamais imaginei que ela partiria de maneira tão abrupta e violenta. A gente sempre acha que terá mais tempo… até que não tem.

Se minha mãe estivesse viva, hoje ela completaria 86 anos.

Ela era uma mulher alegre, simples no jeito e profunda no coração. Fazia amizades com uma facilidade luminosa, tratava bem todas as pessoas, era gentil, solidária — dessas que se doam sem calcular. Por isso, era muito querida. Gostava de cuidar dos filhos, da família, da comunidade católica. Era daquelas pessoas que iluminam sem perceber, que aquecem só de estar por perto.

Não sei… é estranho.
Tudo fica estranho quando alguém que você ama muito morre de repente. A casa muda de cheiro, a rotina muda de lugar, o mundo muda de cor. A mãe — esse pilar silencioso — desaba, e com ela desaba um pouco da estrutura interna que sustentava a vida familiar. E depois… é uma reconstrução. Uma tentativa lenta, imperfeita, de reorganizar o que sobrou, de reencontrar o próprio eixo num mundo que já não é o mesmo.

Minha mãe tinha uma bondade quase antiga, dessas que não se explicam, só se sente. Ajudava quem podia, ensinava valores humanos e espirituais como quem planta sementes para o futuro. E, mesmo vivendo minha vida intensa, sempre longe, sempre trabalhando, sempre envolvida no meu próprio universo… ela permanecia ali. Inabalável. Um porto.

Nos últimos anos, nosso relacionamento floresceu de um jeito bonito. Eu via sua felicidade quando estava comigo — e essa felicidade me fazia bem também. Um dia antes de sua partida, conversamos longamente por telefone. Ela, como sempre, se despediu me abençoando, desejando mil coisas boas. Era tão comum… tão cotidiano… tão nosso.
Mal sabíamos que seria a última vez.

Ainda assim, algumas semanas antes, algo em mim já sabia. Uma tristeza estranha, dessas que não têm forma, só sensação. Eu me aproximei mais, visitei mais, liguei mais. Até compartilhei com ela algo que planejava contar apenas depois — minha participação no livro Cartas para Francisco, que seria entregue ao Papa, ainda seria lançado, como de fato foi. Hoje percebo: a alma, em sua sabedoria silenciosa, já pressentia seus movimentos.

No dia 17 de julho de 2013, aquele ano fatídico… a vida virou ausência. Já são doze anos. E ainda assim, existe um vazio.
Mãe é um paradoxo sem igual: é colo e é espelho, é ferida e é cura, é história e é ruptura. Carregamos traumas profundos, fazemos terapias, imersões, cicatrizações… e quando parece que finalmente estamos respirando com leveza, o universo a recolhe.

O que aprendi com tudo isso?
Não sei ao certo. Talvez seja um aprendizado que nunca termina. Talvez seja o tipo de sabedoria que não se fecha, que não vira ponto final — apenas maturação, camadas que a vida acrescenta devagar.

Sei apenas que o amor dela segue aqui.
Não como presença física, mas como campo.
Como força que sustenta, mesmo quando penso que estou só.
Como bênção que ecoa, mesmo que em silêncio.

E talvez — só talvez — esse seja o verdadeiro legado das mães: permanecer, mesmo quando partem.

By Cida Medeiros


Gentileza: A Chave Oculta para Relações Profundas




Gentileza: A Chave Oculta para Relações Profundas (e um Cérebro mais Feliz)

Você já parou para pensar no poder real de um "bom dia" gentil? Ou na sensação que fica quando alguém, no meio do caos, olha nos seus olhos e sorri?

Muitas vezes, tratamos a gentileza como um acessório social, uma regra de etiqueta. Mas ela está longe de ser superficial. A gentileza é, talvez, um dos nutrientes mais essenciais para a alma humana.

Em um mundo que parece obcecado pela velocidade, pela performance e pela indiferença, praticar a gentileza é um ato quase revolucionário. É uma pausa. É o reconhecimento do outro como humano. E é sobre isso que precisamos conversar.

O Alimento da Conexão

Nós somos seres de relação. Precisamos de conexão segura para prosperar. Quando somos gentis, ou quando recebemos um ato de gentileza, não estamos apenas trocando cortesias; estamos trocando afeto.

Essa troca nos nutre em um nível muito profundo. Ela nos faz sentir vistos, validados e, acima de tudo, seguros.

É curioso como, em nossa jornada pessoal, muitas vezes buscamos grandes transformações externas, quando a fundação de um bem-estar duradouro começa exatamente nessas pequenas trocas. É a base da confiança. E se você sente que essa base está faltando em suas relações, talvez seja o momento de olhar para como essa nutrição afetiva está (ou não) acontecendo.

A Neurociência da Gentileza: Você Está Seguro

E isso não é filosofia; é biologia.

A gentileza não é apenas um conceito abstrato; ela é uma experiência sentida pelo nosso sistema nervoso. Quando vivenciamos um ato genuíno de gentileza, seja dando ou recebendo, ativamos uma parte nobre do nosso cérebro e corpo: o nosso sistema de engajamento social.

Baseado na Teoria Polivagal (trazida por Stephen Porges), nosso sistema nervoso está constantemente escaneando o ambiente perguntando: "Estou seguro?".

A gentileza é a resposta mais clara que podemos dar ou receber de que "sim, você está seguro comigo".

Isso ativa o nosso Nervo Vago ventral, que é o circuito neural da conexão. Quando ele está ativo, nosso coração desacelera, nossa respiração se aprofunda, e literalmente nos tornamos fisiologicamente mais abertos para ouvir, para colaborar e para nos conectar.

O Paradigma da Escassez: Onde Nasce o Ódio

Mas, se a gentileza é tão poderosa e biologicamente natural, por que ela parece tão rara?

Porque fomos condicionados a operar no paradigma da escassez.

Crescemos ouvindo que, para alguém ganhar, outro tem que perder. A competitividade extrema, a ganância, a necessidade de diminuir o outro para se sentir maior... tudo isso nasce do medo.

Quando percebemos o outro como uma "ameaça" – seja ao nosso status, nosso emprego ou nossa visão de mundo – nosso sistema nervoso reage da mesma forma que reagiria a um predador. Ele entra em modo de sobrevivência (luta, fuga ou congelamento).

O ódio, a raiva desmedida, a agressão nas redes sociais... tudo isso é, em essência, um sistema nervoso disparado, operando a partir de um local de ameaça. Muitas vezes, é um corpo que ainda guarda as marcas de dores e traumas passados, reagindo ao presente como se fosse o passado.

A Riqueza do Coletivo: Criando Abundância

A grande virada de chave, e algo que busco explorar profundamente com quem me acompanha neste espaço, é perceber que a escassez é, em grande parte, uma ilusão.

Uma perspectiva mais sistêmica e holística nos mostra exatamente o oposto: o coletivo cria mais.

Quando saímos do modo "ameaça" (sobrevivência) e usamos a gentileza para ativar o modo "conexão" (segurança), a mágica acontece. A criatividade flui. A colaboração gera prazer. O crescimento acontece.

O bem-estar e a satisfação profunda não são subprodutos da "vitória" sobre o outro; são resultados diretos da colaboração e da conexão. A verdadeira riqueza – de tempo, de afeto, de ideias e, sim, até material – é quase sempre resultado dessa concepção de abundância.

Um Convite para a Prática

A gentileza não é fraqueza. Ela é a coragem de desativar conscientemente nosso modo de sobrevivência e escolher ativar nosso modo de conexão.

É um convite diário. Hoje, como você pode ser o sinal de segurança para alguém? Pode ser um olhar, uma escuta atenta, um elogio sincero.

E, tão importante quanto, como você pode receber a gentileza?

Essa reflexão é o primeiro passo. Entender por que reagimos como reagimos e como podemos, ativamente, construir relações mais nutritivas é a jornada de uma vida.

Se essa busca por conexões mais autênticas e por entender como seu sistema nervoso molda sua realidade ressoa com você, continue acompanhando o blog. Há muito mais a descobrir.

E, se sentir que é o momento de aprofundar e aplicar isso em sua própria história, estou aqui. Você não precisa fazer essa jornada sozinho.




Referências Bibliográficas (Sugeridas com base nos seus arquivos):

  • Porges, Stephen. (Conceitos de) Teoria Polivagal. (Ref: Atlas - Teoria Polivagal)

  • Rosenberg, Stanley. Accessing the Healing Power of the Vagus Nerve.

  • Van der Kolk, Bessel. O Corpo Guarda as Marcas: Cérebro, Mente e Corpo na Cura do Trauma.

  • Seligman, Martin E. P. Felicidade Autêntica.

  • Bowlby, John. (Conceitos de) Teoria do Apego. (Ref: Uma Base Segura)