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Marcas Psiquicas do Sequestro


Marcas psíquicas do sequestro
Dezembro


O trauma psíquico das vítimas de seqüestro-relâmpago e de cativeiro é o mesmo. Essa é uma das conclusões da tese de doutorado defendida em novembro pelo psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC). Trata-se da primeira pesquisa brasileira a investigar a magnitude do transtorno de stress pós-traumátuco em vítimas desse delito, ainda pouco estudado do ponto de vista clínico.

"Nosso objetivo foi mostrar que o seqüestro é um crime perverso que produz distúrbios graves", diz Ferreira-Santos, coordenador do Grupo Operativo de Resgate da Integridade Psíquica (Gorip) do HC. Segundo ele, o incidente rompe mecanismos de defesa e adaptação das vítimas, o que faz aflorar pequenos traumas até então latentes, que se somam ao atual e o tornam ainda pior e muito mais complexo.

Participaram do estudo 81 pessoas, das quais metade passou por seqüestro-relâmpago e metade foi mantida em cativeiro. Depois de serem avaliadas por meio de escalas de ansiedade e de stress pós-traumático, os pacientes passaram por 15 semanas de psicoterapia de grupo ou individual, de acordo com a preferência deles, com encontros semanais. Nos casos mais graves, foram prescritos medicamentos. "Usamos a terapia breve e focal, cujo objetivo é reintegrar o aparelho psíquico", diz o psiquiatra.

As mesmas escalas, aplicadas depois do tratamento, revelaram que 80% dos pacientes estavam recuperados. Eles foram divididos em grupos, cada qual passando por um tipo de abordagem psicoterápica: cognitivo-comportamental, humanista-existencialista, psicodrama e psicodinâmica. "O próximo passo será estudar o efeito das diferentes terapias", conta Ferreira-Santos.

O trabalho conduzido no HC tem atraído juristas interessados em dados científicos referentes a um tipo de delito cada vez mais comum nas metrópoles brasileiras. Atualmente há uma discussão entre Ministério Público e Poder Legislativo acerca da possível extinção da qualificação do seqüestro como crime hediondo.