O Limite do Ser: Liberte-se das Lealdades Invisíveis
A Frase Que Desperta e a Raiz do Conceito Familiar
Estava organizando meus papéis antigos e encontrei uma anotação de um curso, um pensamento que me paralisou: “Toda a lealdade diminui o ser que você é e limita a que você pode.”
Pode parecer radical, mas essa frase nos convida a olhar para algo muito mais profundo: o compromisso silencioso que mantemos com a nossa história. O conceito que dá nome a essa dinâmica profunda são as Lealdades Invisíveis, e ele tem uma origem sólida e respeitada na Terapia Familiar Sistêmica.
O psiquiatra húngaro-americano Ivan Boszormenyi-Nagy (1920-2007) foi quem primeiro sistematizou essa ideia. Sua abordagem, a Terapia Familiar Contextual, enfatiza a ética relacional e a “contabilidade” inconsciente que mantemos dentro das famílias. Para Nagy, as lealdades são vínculos poderosos que, quando disfuncionais, nos prendem a um ciclo de repetição, limitando nosso potencial por um senso de débito ou de fidelidade interna.
Mais tarde, Bert Hellinger, criador da Constelação Familiar, bebeu dessa fonte para desenvolver a compreensão dos "emaranhamentos" e do "Amor Cego".
O Preço Oculto: Lealdade ao Ancestral Excluído
Compreender essa conexão é o primeiro passo para a liberdade. Na prática sistêmica, percebemos que muitos dos nossos padrões familiares de sofrimento, luta ou escassez não são escolhas conscientes. Eles são, muitas vezes, repetições de destino assumidas por amor.
Imagine um sistema familiar onde um ancestral excluído (alguém que foi julgado, esquecido ou teve um destino difícil) deixou um "débito ético". O sistema, na sua busca por totalidade, move um descendente (você) a, inconscientemente, repetir o sofrimento ou os sintomas daquele que foi banido. Isso é a lealdade invisível em ação.
Você pode estar sentindo culpa ao prosperar, sabotando seus relacionamentos, ou vivendo uma tristeza inexplicável. Seu comportamento pode estar sendo ditado por um juramento de alma: "Eu sigo você no seu sofrimento para que você não fique sozinho." O resultado? Sua energia vital, que deveria estar focada em quem você é e no que você pode, está presa a um peso que não lhe pertence.
Trauma, Neurociência e o Caminho da Autonomia
Reconhecer essa lealdade é o ato de amor mais radical que você pode fazer por si e por sua família. Não se trata de desonrar quem veio antes, mas de honrar o seu próprio destino.
A neurociência moderna reforça essa jornada de cura. Sabemos, graças aos estudos sobre trauma e neuroplasticidade (como os de Bessel van der Kolk ou Norman Doidge), que as experiências passadas moldam nosso cérebro e corpo, e que a libertação não é apenas mental, mas física e emocional. A Teoria Polivagal, por exemplo, nos mostra como o corpo reage e se defende, e como podemos regular o sistema nervoso para nos sentirmos seguros e presentes.
Ao olhar para a dor e dizer: "Eu vejo você, e deixo seu destino com você, e sigo com o meu", você desfaz o emaranhamento. Você transforma a lealdade cega em fidelidade à sua própria vida. É um movimento que não só te liberta do limite imposto pelo passado, mas devolve a força para as gerações futuras.
Você está pronta para quebrar esse ciclo, compreender a origem do seu comportamento e, finalmente, viver a plenitude do ser que você é? Essa transformação começa com o seu olhar. Que tal darmos esse primeiro passo juntas, iluminando os caminhos da sua história?
Cida Medeiros
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