Bem Vindo ao Blog Cida Medeiros! Caleidoscópio do Saber com Cida Medeiros

Ouvir para Compreender — o Silêncio que Cura Relações



Há uma escuta que não cabe nos ouvidos.
É aquela que se faz com o coração aberto, com o olhar presente e o corpo inteiro dizendo: “eu estou aqui, com você”.
Essa escuta é rara — e, talvez por isso, tão transformadora.

Vivemos em um tempo em que todos falam, mas poucos realmente se escutam.
Nas empresas, nas famílias, nas ruas, o barulho das opiniões parece sempre mais alto que o som do entendimento. Queremos ser compreendidos, mas raramente paramos para compreender. E é aí que nasce a distância — não a física, mas aquela que separa alma de alma.

A Comunicação Não Violenta nos lembra que toda ação humana é uma tentativa de atender a uma necessidade.
Quando alguém se exalta, reclama ou silencia, há um pedido escondido: de cuidado, de reconhecimento, de pertencimento.
Ouvir é decifrar esse pedido invisível. É enxergar o ser humano por trás do comportamento.

Mas o saber, por si só, não transforma.
Quantas vezes já entendemos a importância da empatia… e ainda assim reagimos com impaciência?
O desafio está em praticar o que sabemos.
Em transformar teoria em presença.
Em trocar a pressa por pausa, o julgamento por curiosidade, a defesa por disponibilidade.

Porque escutar é um ato de paz.
E a paz, ao contrário do que parece, não é ausência de conflito — é a presença de consciência.
Quando aprendemos a escutar, dissolvemos muros invisíveis. Criamos pontes. E toda ponte, no fundo, é um gesto de amor.


Que tal, hoje, praticar o simples ato de ouvir alguém sem querer consertar, responder ou vencer o argumento?
Apenas ouvir.
Talvez, nesse silêncio, você descubra o que o outro realmente queria dizer — e o que o seu próprio coração precisava lembrar.

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De Acordo com o Céu: A Travessia do Luto e o Renascimento

 



De Acordo com o Céu: A Travessia do Luto e o Renascimento (Uma Reflexão para o Dia de Finados)

Hoje é um dia de silêncio, de memória e de uma profunda e coletiva saudade.

Neste Dia de Finados, nossos pensamentos se voltam para aqueles que se foram. Para a mãe ou o pai que nos deu a vida, para o filho que partiu cedo demais, para o amor que se foi, para o amigo insubstituível. E também para as mortes simbólicas: os sonhos que não se realizaram, os caminhos que se fecharam.

Todo luto profundo, não importa a sua origem, cria a mesma sensação: a de um abismo.

Uma professora sábia, que encontrou na própria dor um prêmio, certa vez descreveu essa geografia da alma de forma perfeita. Ela usou seu luto mais profundo como um mapa para todos os outros:

"Quando perdi minha mãe, um buraco avassalador abriu-se dentro de mim. Ele drenava tudo para dentro dele, parecia sem fim. Levou carreira, amigos, quase a minha própria vida."

Seja qual for o nome que sua perda tem hoje, você provavelmente conhece esse buraco. É o vácuo que parece consumir toda a esperança.

A Mestra, o Farol e a Travessia Universal

Como sair de um lugar que parece não ter chão? A história da professora nos dá a primeira pista: a necessidade de uma nova perspectiva.

"Por alguma razão totalmente desconhecida, uma mestra se apresentou e disse: 'Quem você perdeu não morreu, apenas vive do lado de lá. Atravesse a ponte. Está vendo aquele farol? Pois tenha ele em perspectiva. Estarei aqui observando de longe, mas a travessia é sua.'"

Essa "mestra" pode ser a fé, um terapeuta, um insight, ou a própria intuição. O "farol" é a prova de que existe algo além da dor. A cura não é esquecer; é mudar a perspectiva.

Exige coragem. Exige determinação.

A "Argamassa Celestial" da Cura

Ao nos movermos em direção a essa luz, o milagre invisível acontece. A cura começa a preencher o vazio, não importa o que o causou.

"Assim, ao se aproximar da Luz, vi que na verdade era um portal. Uma passagem entre mundos... Lá estava a essência, o amor, envolto em Luz.

Foi um olhar profundo, sereno, um sorriso sem palavras. Parecia uma argamassa celestial que começava a preencher aquele buraco profundo da alma. Parecia milagrosamente construir um chão onde havia um abismo. [...] O abraço, o sorriso, a presença ficaram marcados no Éter invisível da criação."

Esse reencontro simbólico é o que constrói um novo chão.

E Agora? O Solo Fértil do Renascimento

Voltar desse lugar de profunda conexão nos deixa perplexos diante da destruição que a perda causou.

"Retornei. Olhei para a vida com um olhar diferente... Vi toda aquela destruição com ar de perplexidade, como alguém que volta de um transe e se pergunta: 'E agora?'

Há chances de reconstrução? Alguma possibilidade?"

Aqui começa o verdadeiro renascimento. Onde antes havia um "território sem vida", agora há um solo árido, mas pronto.

"Apenas a fé de que existem algumas sementes germinando neste solo, de maneira muito invisível. Um projeto invisível... que a fé ainda me faz supor que irá existir. [...] Sabendo que sempre haverá um novo luto, simbólico ou real, e uma nova oportunidade de Renascimento."

A Aliança Invisível que Honramos Hoje

Neste Finados, o que nos guia é essa fé.

"Será que existe, na verdade, uma aliança invisível, da qual a gente não tem a capacidade de ver ainda? Mas que nos dá uma certa esperança."

Que a saudade que sentimos hoje não seja apenas dor, mas a certeza dessa aliança. Que ela se transforme em um novo amor. Um amor que rega esse solo árido e permite que, então, haja uma nova possibilidade.

Que nessa nova criação, possamos ser uma nutrição para todos. E que isso, enfim, faça a vida voltar a fazer sentido novamente.

Cida Medeiros

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Ansiedade: Inimiga ou Aliada?



Ansiedade: Inimiga ou Aliada? A Ciência da "Ansiedade Saudável" e a Sua Curva de Desempenho


Você já se sentiu culpado por estar ansioso? Ou se perguntou se aquela preocupação intensa antes de uma apresentação importante é "normal" ou o primeiro sinal de um problema maior? Vivemos em uma cultura que trata a ansiedade quase exclusivamente como uma vilã a ser erradicada. Essa visão gera uma dor clínica silenciosa e profunda: o medo de que nossas próprias reações emocionais sejam um defeito. A verdade, no entanto, é muito mais complexa e, surpreendentemente, mais esperançosa.

Este artigo tem como objetivo desmistificar a ansiedade. Vamos usar a neurociência e a psicologia para lhe oferecer uma ferramenta clara para distinguir a ansiedade funcional e saudável da ansiedade patológica e paralisante. Ao final, você será capaz de analisar suas próprias reações através da lente da Lei de Yerkes-Dodson e entender quando a ansiedade está trabalhando a seu favor e quando é hora de procurar ajuda.


A Biologia da Sobrevivência: Por Que a Ansiedade Existe?

Antes de ser um termo clínico, a ansiedade foi uma ferramenta de sobrevivência. Do ponto de vista biológico, a ansiedade nada mais é do que a ativação da nossa resposta de "luta ou fuga". Como nossos ancestrais, quando nosso cérebro percebe um desafio ou uma ameaça (seja um predador ou um prazo de trabalho), ele dispara um alarme.

Esse alarme, orquestrado por áreas cerebrais como a amígdala, libera hormônios como adrenalina e cortisol. O resultado?

  • Seu coração acelera para bombear mais oxigênio.

  • Sua respiração fica mais rápida.

  • Seus sentidos se aguçam.

Seu corpo não está falhando; ele está se preparando para a ação. A neurociência afetiva moderna confirma que esse mecanismo é fundamental para a performance. Sem essa "ignição" biológica, nos faltaria o impulso para estudar para uma prova, nos preparar para uma negociação ou reagir rapidamente em uma emergência. Essa é a ansiedade em sua forma mais pura e saudável: um motor para a ação.


O Ponto de Equilíbrio: A Lei de Yerkes-Dodson e a Sua Curva de Desempenho

Então, onde essa ferramenta de sobrevivência se transforma em um obstáculo? A resposta está em um conceito psicológico centenário, mas incrivelmente atual: a Lei de Yerkes-Dodson. Proposta pelos psicólogos Robert M. Yerkes e John D. Dodson em 1908, esta lei descreve uma relação empírica em forma de "U invertido" entre o nível de excitação (ansiedade) e a qualidade do desempenho.

Imagine um gráfico:

  1. Baixa Ansiedade (Apatia): No lado esquerdo da curva, com pouca ou nenhuma ansiedade, o desempenho é baixo. Falta motivação, o foco é disperso e o resultado é medíocre. Pense em uma tarefa para a qual você não sente nenhuma pressão ou importância.

  2. Ansiedade Ótima (Pico de Performance): À medida que a ansiedade aumenta para um nível moderado, o desempenho sobe junto. Você atinge o topo da curva. Aqui, a ansiedade é "saudável". Ela aguça sua concentração, aumenta sua energia e o impulsiona a dar o seu melhor. É a tensão que um atleta sente antes da competição ou o nervosismo que um orador usa para cativar a plateia.

  3. Alta Ansiedade (Paralisia): Se a ansiedade continua a aumentar, passamos do pico e o desempenho começa a cair drasticamente. Este é o território da ansiedade patológica. O cérebro fica sobrecarregado, a capacidade de raciocínio lógico é sequestrada pelo pânico, e em vez de agir, você paralisa. A preocupação se torna excessiva e o foco se transforma em confusão mental.

Evidência Científica: O estudo original, "The relation of strength of stimulus to rapidity of habit-formation", embora focado em camundongos, estabeleceu a fundação para décadas de pesquisa em performance humana, confirmando que um nível ótimo de estresse e excitação é crucial para a aprendizagem e a execução de tarefas complexas. Pesquisas mais recentes em neurociência corroboram isso, mostrando que níveis moderados de cortisol podem melhorar a memória e a cognição, enquanto níveis cronicamente elevados têm o efeito oposto.


Quando o Alarme Não Desliga: Sinais da Ansiedade Patológica

Distinguir o pico da curva da queda vertiginosa é a chave. A ansiedade deixa de ser saudável quando se torna:

  • Desproporcional: A intensidade da sua reação é muito maior do que a situação justifica (ex: um ataque de pânico por causa de um e-mail).

  • Persistente: Ela não desaparece quando o gatilho é removido. Permanece como um ruído de fundo constante, minando sua energia.

  • Generalizada: Você se sente ansioso sobre "tudo e nada" ao mesmo tempo, sem um foco claro.

  • Paralisante: Em vez de motivar, ela impede você de realizar tarefas diárias, sociais ou profissionais, levando à evitação.

Se suas experiências se alinham mais com estas descrições, você pode estar no lado descendente da curva de Yerkes-Dodson, onde a ansiedade se torna clinicamente significativa.


A ansiedade não é um interruptor de "ligar/desligar". É um espectro. Sentir ansiedade não faz de você uma pessoa "quebrada"; faz de você um ser humano equipado com um poderoso sistema de sobrevivência. O desafio não é eliminar a ansiedade, mas aprender a navegar em sua curva.

Reflita: Nos seus últimos desafios, onde você se localizou na curva de desempenho? Sua ansiedade serviu como combustível para o pico da performance ou como o peso que o arrastou para a exaustão?

Compreender essa distinção é o primeiro passo para fazer as pazes com suas emoções. É a diferença entre usar o vento a seu favor e ser derrubado por uma tempestade. Se você reconhece que vive consistentemente no lado direito da curva, onde a ansiedade é paralisante e dolorosa, saiba que isso não é uma falha de caráter. É um sinal de que seu sistema de alarme precisa de ajuda profissional para ser recalibrado.

A ansiedade não é sua inimiga. A desinformação e a falta de autocompreensão, sim.


Referências Sugeridas:

  • Yerkes, R. M., & Dodson, J. D. (1908). The relation of strength of stimulus to rapidity of habit-formation. Journal of Comparative Neurology and Psychology, 18(5), 459-482.

  • Lupien, S. J., Maheu, F., Tu, M., Fiocco, A., & Schramek, T. E. (2007). The effects of stress and stress hormones on human cognition: Implications for the field of brain and cognition. Brain and Cognition, 65(3), 209-237.