A Confiança como um Estado Fisiológico: Uma Nova Perspectiva sobre Bem-Estar e Conexão
A confiança é um pilar fundamental em nossas vidas, seja em relacionamentos pessoais, profissionais ou em nossa própria capacidade. Mas e se a confiança não fosse apenas uma questão de crença mental, e sim um estado fisiológico? Essa perspectiva inovadora, embasada na teoria polivagal, nos convida a repensar como construímos e vivenciamos a confiança em nosso dia a dia.
Muito Além da Mente: A Confiança no Corpo
Para muitos empreendedores de sucesso, acostumados a um cenário competitivo, a confiança pode parecer algo intangível. No entanto, a visão polivagal nos revela que a confiança não é meramente uma crença ou uma emoção abstrata. Ela é, na verdade, um estado corporal, profundamente moldado pela atividade do nervo vago ventral.
Este componente do nosso sistema nervoso autônomo, quando ativado, desempenha um papel crucial na regulação de diversas funções corporais. Ele desacelera o ritmo cardíaco, modula a ativação simpática (ligada à resposta de "luta ou fuga") e, o mais importante, favorece a conexão. Quando o vago ventral está ativo, nossos sistemas internos readquirem ritmo e flexibilidade, permitindo uma sensação de segurança e abertura.
A confiança fisiológica emerge dessa coerência interna, onde nossa respiração, frequência cardíaca e sinais neurais se alinham harmoniosamente. É uma experiência que envolve todo o corpo, uma capacidade que evoluiu como um alicerce para a sobrevivência e a corregulação humana. Nossa grande vantagem adaptativa não se limitava à comunicação verbal, mas à habilidade de transmitir que estávamos sincronizados, sintonizados e seguros uns com os outros. Essa capacidade de corregulação não é um mero sentimentalismo; é uma estratégia vital que impacta diretamente nossa saúde, adaptabilidade e desempenho.
O Protocolo Seguro e Sólido (SSP): Reconstruindo a Confiança "de Baixo para Cima"
É nesse contexto que o Protocolo Seguro e Solido (SSP), desenvolvido por Porges e colaboradores, surge como uma abordagem promissora para reconstruir a confiança fisiológica. O SSP busca facilitar esse processo "de baixo para cima", agindo diretamente nos mecanismos fisiológicos que sustentam a sensação de segurança.
A implementação do SSP pode ocorrer de diferentes maneiras. Em alguns casos, o protocolo se adapta ao estado atual do indivíduo, priorizando ferramentas para restaurar o controle e a confiança antes de introduzir conceitos de segurança e conexão. Para sistemas acostumados a operar em modo de "luta ou fuga", a primeira mudança pode ser em direção ao propósito, ritmo ou precisão, e só então, à medida que as defesas fisiológicas diminuem, a linguagem da confiança e do pertencimento se torna mais acessível.
No Brasil, o acesso a materiais sobre o SSP ainda é limitado, e sua aplicação é feita por meio de consulta com especialistas treinados especificamente nesta abordagem. Embora a música possa naturalmente induzir estados de conexão vagal ventral, em casos mais complexos de trauma, a intervenção especializada é fundamental.
Independentemente da complexidade, essa nova perspectiva abre portas para explorar a diferença entre proteção e conexão não apenas como conceitos, mas como experiências sentidas. Segundo seus criadores, o SSP não é apenas uma ferramenta temporária de mudança de estado; é um exercício neural. Ele move o sistema de forma suave e repetida, facilitando a transição entre estados de segurança e de ruptura, construindo capacidade ao longo do tempo. Assim, os indivíduos começam a perceber que é seguro sentir-se seguro – e até mesmo seguro sentir-se inseguro. Eles não precisam analisar suas respostas ou atribuir significados complexos; podem simplesmente sentir, sem serem sobrecarregados pela história associada a isso.
Para alguns, o SSP marca o início da confiança — em si mesmos, no profissional que os acompanha e na capacidade de transformação do próprio corpo. Para outros, pode ser introduzido em um estágio posterior, quando recursos fundamentais já estão estabelecidos. Com o tempo, o SSP pode se tornar uma ferramenta valiosa para a recuperação, preparação para o desempenho ou para restaurar a regulação em momentos de incerteza, viagens, competições ou grandes mudanças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Bem vindo! Deixe aqui seu comentário.