A Liberdade de Estar Aqui: Quando a Expectativa se Dissolve no Agora
Quantas vezes nos pegamos vivendo em um futuro que ainda não chegou, presos a cenários que criamos na mente? É um paradoxo, mas essa ânsia pelo que está por vir, essa constante expectativa, é o que mais nos rouba o agora. O mestre Bert Hellinger, com sua profunda compreensão das dinâmicas da vida, já nos apontava para essa armadilha:
"A expectativa cessa quando permanecemos no momento presente. Pois tudo que esperamos está além do momento presente. A expectativa nos impede de permanecermos neste instante - através da expectativa o perdemos. Perdemos principalmente o que o instante nos presenteia. Ele nos dá mais do que esperamos, pois o que o instante nos oferece nós possuímos de uma maneira segura."
Mas a verdade é que a expectativa faz mais do que nos tirar do momento presente; ela cria nuvens densas que obstruem nossa visão e nos impedem de apreciar o sol em sua temperatura natural, em sua genuína magnificência. Ficamos tão presos ao que o sol "deveria ser" – menos quente, mais quente, talvez com um brilho diferente – que não conseguimos sentir o calor que ele realmente nos oferece. Essa busca por um ideal fabricado nos cega para a beleza e a abundância que já estão aqui, no presente.
É uma dança delicada entre a alegria do que se espera e o medo paralisante de que essa expectativa não se realize. Ambos nos amarram, nos impedem de nos abrir para a vida exatamente da maneira como ela se manifesta. Afinal, como podemos receber o que o instante nos presenteia se estamos ocupados demais projetando o que ele deveria trazer?
A sabedoria, percebo, não está em negar o sol em si, mas em lidar com a realidade exatamente como ela se apresenta. Se o sol está forte demais, buscamos a sombra. Se está ameno, desfrutamos cada raio. Agimos de acordo com o que surge, com a realidade nua e crua, sem as lentes distorcidas do que gostaríamos que fosse.
Quando nos libertamos das amarras do "deveria ser", quando abrimos mão das expectativas rígidas, somos capazes de aceitar o instante em sua plenitude, com tudo o que ele traz. Não estamos mais em um campo de batalha contra o que é, mas em um fluxo sereno de aceitação.
Nesse espaço de permissão e presença, temos aquilo que é possível agora, e o temos por inteiro. Estamos abertos a surpresas, a novos caminhos que só se revelam no momento exato. Não esperamos mais, de forma ansiosa e controladora, por um futuro distante. Esperamos, sim, mas com uma calma centrada e uma prontidão serena, apenas pelo próximo instante. Porque é só ele que nos leva adiante, trazendo em seu próprio fluxo tudo o que precisamos, exatamente como deve ser.
Com a leveza de quem vive o agora,
Cida Medeiros