Não Dói Apenas o Fim: É o Luto pelo Futuro. Um Guia para Recomeçar
O Luto pelo Futuro que Não Virá: Recomeço e Flexibilidade
Quando um relacionamento de anos termina, a dor vai muito além de ter que mudar de casa ou desfazer as malas. É como se o seu coração, que tinha aprendido a conjugar o futuro no plural, agora se deparasse com uma página em branco e a confusão de uma nova gramática. Sabe, a gente planeja um "nós seremos felizes" e de repente, a única opção é um "eu serei feliz". E é claro que isso confunde a gente.
Muitas vezes, a primeira reação é querer empurrar essa dor para longe, fingir que está tudo bem. Tentamos nos distrair, nos manter ocupados. Mas a verdade é que lutar contra o que se sente é como tentar segurar uma bola de praia debaixo d'água: a gente se cansa, se exaure, e ela sempre volta para a superfície. A dor existe porque o que se foi importava, e a única forma de passar por ela é permitindo-se sentir.
Não Lute Contra a Maré, Aprenda a Flutuar
Seu Cérebro Não Está Quebrado, Ele Só Está Cansado
A neurociência nos explica que essa dificuldade não é uma falha sua. Pelo contrário, é uma resposta natural do seu corpo e cérebro ao trauma de um fim. O rompimento de um vínculo, especialmente um forte, é percebido como uma ameaça. Isso faz com que o seu cérebro entre em estado de alerta, como se estivesse sempre esperando o próximo perigo.
É por isso que você pode se sentir ansiosa (o), com medo ou até mesmo paralisada(o) para fazer as coisas mais simples. O seu corpo, sem querer, pode estar revivendo as sensações do passado — o desespero, a raiva, a paralisia — mesmo que a situação de perigo já tenha acabado. A boa notícia é que você não precisa lutar contra isso. O caminho para se sentir bem novamente é aprender a "soltar a corda", a navegar com as emoções, em vez de se afogar nelas.
O verdadeiro pedido da vida não é para vencer a guerra contra a dor, mas para se permitir senti-la, sem defesas, e usar a energia dessa experiência para outros aspectos da vida. É como um barco que, em vez de lutar contra as correntes, aprende a navegar com elas, aproveitando a força da maré para chegar a um novo porto.
O Que Fazer Agora?
Para ajudar sua mente e seu corpo a entenderem que o ciclo acabou, você pode criar rituais simples.
Pegue uma caixa vazia e, simbolicamente, coloque nela tudo o que este relacionamento deixou: as frases que ecoam, as promessas não cumpridas, a dor e a saudade. Feche essa caixa. Você pode queimá-la em um lugar seguro, enterrá-la em um jardim ou simplesmente guardá-la, sabendo que as lembranças estão lá, mas não precisam mais te aprisionar.
Em seguida, pegue outra caixa, uma caixa para o seu recomeço. Encha-a de pequenos compromissos consigo mesma. Pergunte-se:
Do que eu não abro mão daqui para frente?
Verdadeiramente, minhas necessidades foram consideradas?
O que eu posso aprender com essa experiência para o futuro?
Comece devagar. Troque um objeto antigo por uma flor fresca, coloque aquela música que te faz sentir forte, ou se permita um banho demorado, imaginando a dor escorrendo pelo ralo. Essas pequenas ações parecem bobas, mas são gestos poderosos que ajudam seu corpo a se sentir seguro e a se reconectar com você mesma. É um processo de autorregulação.
O Caminho para se Sentir Presente de Novo
Terminar Também é Começo
A jornada para se sentir presente de novo não é fácil. A dor, o luto e o medo de ser magoada novamente vão continuar por perto. Mas eles não precisam ser seus inimigos. O que eu aprendi é que o propósito da vida não é ser feliz o tempo todo, mas ser capaz de sentir tudo, de braços dados com a vida, e ainda assim conseguir caminhar em direção ao que realmente importa para você.
Conecte-se com as pessoas que te fazem bem, e com atividades que te trazem prazer e paz. Comece a construir sua nova história, não a partir da dor do passado, mas a partir do que você mais valoriza hoje.
Esse processo de acolher a dor e, ao mesmo tempo, agir de acordo com seus valores é o que permite a flexibilidade psicológica, a real capacidade de viver uma vida plena, mesmo em meio às adversidades.
Este post foi criado com base em princípios da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), um modelo terapêutico que ajuda as pessoas a viverem uma vida plena e com propósito, enquanto aceitam a dor que a vida inevitavelmente traz. Para saber mais sobre o tema, você pode buscar por publicações de especialistas como Jill A. Stoddard e Niloofar Afari e Dr. Steven C. Hayes.
Cida Medeiros

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